Standing With Ukraine II
O FARDO
Carrego-o há muitas
gerações
Do meu sangue, do
sangue do meu povo.
Na minha terra
nasceram os poetas roubados
Escravizados, levados
para longe deste céu
Os girassóis-fénix
sempre acesos nos corações
Como sóis que
atravessam os tempos
Sem perder uma só
centelha
Choraram, choram a
mesma luz que nos guia.
O suor e o sangue
misturaram-se no meu sangue
Impressão gravada na
alma
Que enrijeceu os
músculos da vontade.
Sobre as montanhas e
as estepes
Paira sempre a sombra
deste vulto voraz
Que de quando em
quando
Se finge adormecido.
Insaciável
Sempre que acorda é
para devorar
Um pedaço mais do que
nunca lhe pertenceu.
Não tem alma, inveja
apenas a nossa alma
Não tem coração, nele
rebate apenas
O sino dos infernos,
incandescente e soturno.
Alimenta o ódio,
devorando-se a si mesmo
Enquanto acusa a sua
própria sombra
Os cordeiros na borda
do riacho
O sol que quer apagar
da face da terra
E jura vingança e mais
matança
E devora e mata, mais
sempre mais.
Insaciavelmente o
monstro incha
Interminavelmente
crava as garras estridentes
Na paz da planura, nas
cinzas da conquista falhada.
Os meus ombros
vergam-se mais e mais
Formam uma
carapaça-ponte
Que me ligará às novas
gerações
O meu último suspiro
será o hino comum
A minha última palavra
será “liberdade”…
Já esteve mais
distante o dia em que se extinguirá
Este pútrido mal,
circular e nulo
Neste exercício de
antropo-autofagia
O monstro morrerá
afogado no seu próprio sangue-veneno
Guerra ao seu vazio de
alma! Ámen!
São Ludovino,
21/9/2023
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